quinta-feira, 12 de abril de 2007

À Água

Ninguém ouve a canção, mas o ribeiro canta!
Canta, porque um alegre deus o acompanha!
Quantos mais tombos, mais a voz levanta!
Canta, porque vem limpo da montanha!

Espelho do céu, é quanto mais partido
Que mais imagens tem da grande altura.
E quebra-se a cantar, enternecido
De regar a paisagem de frescura.

Água impoluta da nascente, És a pura poesia
Que se dá de presente
Às arestas da humana penedia...
Pela graça infantil da vossa mão


Odes . Poesia completa I, de Miguel Torga . Círculo de Leitores – (pág. 220)

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