sábado, 24 de março de 2007

Prisão

Canta dentro de mim a confiança
Da grande multidão silenciosa
Que me rodeia.
Move-se uma epopeia
Na rasa solidão do meu destino.
Como um búzio anódino
Que na praia ressoa
A pancada da onda que magoa
As penedias,
Assim eu tenho melodias
Emparedadas
No coração.
Pudesse a concha, como um fruto cheio
De fecundas doçuras desejadas,
Abrir-se no areal de meio a meio
E libertar as notas abafadas!

Miguel Torga, Antologia Poética, pág. 113

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